Testemunho de Fé e Superação
"Tu a quem tomei desde os fins da terra, e te chamei dentre os seus
mais excelentes, e te disse: Tu és o meu servo, a ti escolhi e nunca te
rejeitei. Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu
Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a dextra da minha justiça.
(Isaías 41.9,10)
Há alguns dias, aconteceu o retiro anual do Colégio Episcopal. Num dos
momentos de intervalo, o pessoal resolveu fazer um pequeno passeio, que incluía
uma subida de oito minutos num teleférico. Como o Maurício Zágari era o
palestrante convidado a meu pedido, achei por bem acompanhar o visitante no
fatídico passeio, muito embora eu tenha um medo terrível de alturas e pequenas
coisas penduradas, como um bondinho balançante no ar. Oito minutos são
excruciantes para quem tem medo. Parece que não acaba nunca mais...
Há tanta gente que parece nunca ter medo... tudo é tão claro, parece que sempre
vai dar certo. É uma maravilha! Eu admiro e, equivocadamente, me comparo. Sinto-me ainda menor do que meus pouco menos de 1,60m de altura. Muitas vezes eu
perdi nessa comparação. E talvez muita gente perca, como eu.
Mas se é verdade que há 365 vezes o "Não temas" na Bíblia, é porque
talvez as coisas não sejam assim como parecem. Não é preciso dizer "Não
temas" para quem não tem medo. Não é preciso incentivar quem já está com a
autoconfiança em cima. Todas as vezes que um desafio novo aparece na vida de
uma pessoa a quem Deus designou para uma tarefa, ele diz: Não temas. Moisés era
um pastor de ovelhas habituado ao deserto, um morador do palácio acostumado à
política, um estrategista estudado que conhecia os caminhos do Egito. Mas teve
medo de se tornar um líder político, mesmo tendo sido preparado para isso a
vida toda. Josué era um soldado pronto para a guerra, mas acho que ele sentiu
medo ao se tornar o novo dirigente do povo. Senão, por que Deus disse: Seja
forte e corajoso. Ele já não era? Jesus pediu ao Pai para, se possível, tirá-lo
do rumo decisivo da cruz. Mesmo assim, ele a enfrentou.
Assim como eu. Desci com as mãos suadas, o corpo tremendo, daquele teleférico
miserável pendurado por uma cordinha. Com medo, mas com a vitória de ter feito
a pequena viagem. E na vida não é diferente. Andar no escuro com medo, mas ir.
Pegar no volante depois de um acidente, viajar quilómetros a 60 por hora, dedos
suados no volante, mas ir. Estar todos os domingos à frente de um púlpito para
pregar, tremendo por dentro, mas falar.
A fé como certeza das coisas que se esperam e como convicção de fatos que se
não veem. A fé como salto no escuro. A analogia da fé. Versões bíblicas e
teológicas que nos ajudam a enxergar a vida de um jeito mais pleno de
esperança, mas sem negar o medo. Deus diz: Não temas porque ele sabe que eu
temo. Mais ainda, ele sabe que a situação é temível e temerária. Eu temo, mas
creio. Porque reconheço a minha fragilidade ao mesmo tempo em que acredito nas
coisas que espero, porque Deus disse que eu posso esperar. Como também tenho
convicção do que não vejo porque Deus disse que estão lá. Mãos suadas, coração
batendo forte, eu vou, com medo mesmo. E lá do alto, me alegro por ter
conseguido mais uma vez. Já reparei que o regresso é sempre mais fácil. Se eu
tiver uma fé pequena, ela confronta o medo grande. E ela vai crescendo à medida que o medo diminui. Eu cresço. Mas quando ficar difícil, meu pai eterno me
segura, como um pai apoia uma criança que aprende a andar de bicicleta: Não
tenha medo, você consegue. E eu creio, porque sei que ele está bem atrás de
mim.
Bispa Hideide Brito Torres
Igreja Metodista do Brasil
8ª. Região